Monday, April 28, 2014

Perus: as ruas de nossa infância


Nós revirávamos aquelas ruas de baixo para cima e de cima para baixo. Subíamos o morro e descíamos só para poder de novo subir. Desvairados, despencávamos lá de cima com nossos carrinhos de rolimã. Volta e meia íamos levar pontos na enfermaria da fábrica. Cá e lá, fazíamos nossas traquinagens, nunca nada sério. Coisas de criança. Entrávamos no mato, pegávamos ingá, jabuticaba e até jatobá. Goiaba, então...Com canudinhos de mamona, soltávamos enormes bolhas de sabão no ar. Empinávamos pipas e soltávamos balões. Espiávamos tudo, uma enorme curiosidade! Às vezes espiávamos o que não era para se espiar. Não fazia mal, pois não tínhamos ninguém para contar. Além disso, ninguém acreditaria na gente mesmo...
Nós éramos os legítimos donos das ruas de Perus. Nem precisávamos de escritura lavrada, nossa posse era de conhecimento público.
Agora são outros tempos. Os garotos não possuem mais as ruas. Nem os adultos. Agora, elas estão cheias e não são de ninguém. São elas que nos possuem...





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Sunday, April 27, 2014

O paradoxo do tango



No espaço profundo, num futuro distante, a nave interestelar rasga as barreiras cósmicas. Quase perto da velocidade da luz, partiu há três anos da Terra azul. Projeto multinacional, multirracial, carrega astronautas de várias nações.
O comandante passeia pelos corredores para passar o tempo. O gigantesco e poderoso computador cuida de tudo, não precisa se preocupar. Num dos bancos ao longo de seu caminho, vê um astronauta deitado. Está usando aqueles fones de ouvidos antigos, de muitos séculos atrás. Intrigado, o capitão lhe pergunta sobre o aparelho. Lembrança do tataravô. Ele, um argentino, tem esse hobby de colecionar coisas muito antigas. A pergunta do superior é óbvia. O que estaria ele ouvindo? O argentino ao invés de responder, coloca os fones no ouvido dele. O experiente homem, fica curioso e quer saber que música é aquela. Ele diz, orgulhoso, que é um tango argentino. O capitão, não se sabe se estava sendo irônico ou não, diz que é muito interessante. O argentino orgulhoso diz: “Eu sei”. O capitão continua sua caminhada mas, de repente, vira-se e fala:
-Você sabe que o que você está fazendo é um paradoxo, certo? Um tango argentino numa nave do futuro, a bilhões de anos luz da Terra? Um tango de milhares de anos atrás? Definitivamente, um paradoxo.
O argentino dá um sorriso confiante e diz:

-Eu sei, eu sei...

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Saturday, April 26, 2014

A Idade do Amor




E um ser, divino ou humano, não se sabe, um dia gritou: Basta!
E, então, como se fosse um milagre, cessaram a injustiça, o abuso e a cruedade. E os injustos e despósticos caíram. Os justos e puros subiram e começaram a reger o mundo. Acabaram-se  as hostilidades, as guerras, e a fome. As doenças sumiram,  o crime desapareceu, e o preconceito parou de existir.  A sabedoria floresceu, a ciência começou a servir a todos, e os homens de boa vontade se juntaram. E foi dado perdão, os fracos se fortaleceram, e os doentes convalesceram. E houve alegria, houve paz, houve harmonia. E os povos se entenderam, o fanatismo desvaneceu, as religiões se converteram numa só. E a natureza se curou, as águas se purificaram, o ar ficou limpo. Todos começaram a fazer o bem e a falar a mesma língua.
E todos se amaram,  juntando-se numa perfeita harmonia.
Era uma nova era, estava começando a Idade do Amor.











Wednesday, April 23, 2014

Na Califórnia é diferente



Na calada da noite, em San Jose, California, um garoto de 15 anos pula a cerca do aeroporto, corre até um avião da Hawaiian Airlines e se esconde no compartimento do trem de pouso. Ninguém ouviu, ninguém viu. Apesar das temperaturas abaixo de zero e do ar rarefeito, viaja por mais de cinco horas e chega vivo em Maui. As câmeras de segurança avistaram o passageiro clandestino descendo lépido da “terceira classe” do jato. Estava andando meio perdido, sem lenço nem documento, pelas imediações da pista. Foi devidamente recolhido, interrogado e levado ao hospital. Passa bem, obrigado. Parece que não vai ser processado, embora este país processe menores com bem menos idade do que ele.  Afinal de contas, apesar de a California “ser diferente”, ele achou que o Hawaii  era mais “cool” ainda.

Eu acho, entretanto, que, além de não ser indiciado, ele devia ser contratado pelas forças especiais dos EUA. Não é fácil encontrar gente com tanta ousadia e coragem. Esse tem peito.  Além disso, se deixarem o rapaz por aí, sem ter o que fazer, qualquer dia desses ele aparece, todo lampeiro, como diziam os antigos, saltando de um veículo espacial recém pousado em Marte. A NASA que se cuide...



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Tuesday, April 22, 2014

Pretzels e glúons


A Wikipedia diz: “O pretzel é um pão tradicional alemão, em forma de nó, seco, estaladiço, habitualmente muito cozido e salgado.”
A Silvana Da Dalt diz na Internet que “ Os glúons são partículas do campo que transmitem força entre os quarks dentro dos prótons e nêutrons. Possuem spin=1.”

Eu li no dicionário que glúten é uma substância proteínica, viscosa, que constitui a parte interna de sementes de cereais e, sem ajuda de ninguém (imaginem só!) conclui que ele, ironicamenete, deve aparecer no pretzel e não no glúon, apesar do aparência enganosa do nome. Concluí, pois, que ser padeiro deve ser muito mais fácil do que ser um teórico de Física Quântica. Pobre de mim que gosto tanto dessas coisas...Seria tão bom e tão fácil, se os átomos, ao invés de serem formados de quarks, léptons, essas coisas estranhas, fossem formados de pretzels. Daí, eu seria um cientista também...No momento, entretanto, nem padeiro sou!

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Monday, April 21, 2014

A namorada do face


Com tão pouco tempo para a vida real e tanto tempo nas redes sociais, o rapaz arrumou uma namorada no Facebook. E já começou bonito. Beijos virtuais, instantâneas mensagens românticas,  compartilhamentos apaixonados. E o amor foi virtualmente, crescendo em bits e bytes. Postagem de fotos, frases bonitas, mensagens codificadas de amor.
Um dia, o rapaz quis mais.  Queria sentir o gosto de mel dos lábios de sua “Iracema” eletrônica,  queria contornar as suaves curvas de sua paixão “internética”. Estava cansado só de software, queria conhecer melhor o hardware. A moça do Face foi se esquivando, arrumando desculpas. A rede caiu, o sinal está fraco...O rapaz, finalmente, encontrou alguém de carne e osso, fora da rede. Passou do virtual para o carnal. Avisou, porém, a sua antiga amada, pois de traidor não queria ser chamado, nem no virtual. Avisou, postou que agora tinha uma namorada de verdade. Alguém, sem ser chamado, entrou no meio da postagem e comentou: Bem feito!
Ele cancelou a amiga, mas antes, ironicamente, perguntou: Gostou da minha postagem, da minha decisão? E por fim finalizou: Se gostou, compartilha!
Ela, é claro, não compartilhou...mas “desficou” o amigo...

Existe “desficou”? Se não existe, fica aí a sugestão...




Saturday, April 19, 2014

Duas histórias que se cruzam






A primeira história é simples e curta. É sobre Ronald Benjamin, um funcionário de um condomínio em St. Petersburg, na Flórida. No dia dois de abril, quando inspecionava a frente do condomínio, notou que haviam deixado um manequim de mulher bem ali perto da parede do prédio. Espalharam até um líquido vermelho para imitar sangue. Essa rapaziada não tem jeito mesmo, pensou. O dia anterior tinha sido Primeiro de Abril e eles resolveram fazer essa brincadeira de mau gosto. Era sua obrigação deixar tudo em ordem, limpinho. Bem naquela hora, estava passando o rapaz que entrega o jornal da cidade. Pediu ajuda e os dois levaram o manequim até o o container de lixo. Com tanta coisa para fazer e ainda precisou se preocupar com essas coisas.
A outra história é sobre uma senhora muito simpática, de 96 anos, Nancy Yates. Ela tinha muitas coisas para contar. Nascida na Grã-Bretanha no ano de 1917, serviu nas forças armadas  daquele país durante a Segunda Guerra Mundial. Dizia que tinha conhecido  o Winston Churchill, em pessoa. Nos anos 70, mudou-se para a Flórida e tornou-se cidadã americana. Provavelmente quis aproveitar o clima gostoso do estado. Simpática, conhecida por todos, gostava muito de falar, participar, organizar. Montou até uma pequena biblioteca para os residentes do prédio onde morava. Era incrível o que a velha senhora fazia aos 96 anos. Nos últimos meses, entretanto, segundo outros moradores, ela foi ficando mais e mais silenciosa e estranha. Um dia até se esqueceu de fechar a torneira da pia da cozinha, deixando a água correr até o apartamento abaixo dela. Ela ficou devastada com aquilo. Comentou com um amigo do prédio que tinha medo que a expulsassem dali. Ele retrucou que jamais alguém faria uma coisa dessas.
O fato é que no dia primeiro de abril, ela colocou um pequeno banco junto à janela de seu apartamento e se atirou do décimo-sexto andar. Deixou um bilhetinho lamentando o trabalho que iria dar com seu suicídio e mencionando o fato de que tinha deixado vazar água em outro apartamento. Sempre elegante, a doce mulher.
E é aí que as duas histórias se cruzam: o Benjamin e a Nancy eram do mesmo prédio. E o manequim era nada mais, nada menos, que o corpo da distinta senhora. Parece incrível, mas aconteceu. O Benjamin não percebeu que o “manequim” era um corpo de verdade. Na Flórida essas coisas acontecem.

A notícia

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Tuesday, April 15, 2014

O valor de cada um



Cada um vale o que tem, diz o materialista.
Cada um vale o que faz, diz o moralista.
Cada um vale o que compra, diz o capitalista.
Cada um vale o que pensa, diz o analista.
Cada um que vale o que não pesa, diz o esteticista.
Cada um vale o que come, diz o nutricionista.
Cada um vale o que é, diz o humanista.


Para mim, você vale tudo, diz o amigo.
Para mim, você vale minha vida, diz o amante.

Mas, no final das contas, o que vale mesmo, é o valor que você dá a si mesmo.


Gente que faz gente chorar


Monday, April 14, 2014

Notícias de lá, notícias de cá



O Putin avisou: “Agora a Crimea é minha”. O Obama advertiu que não pode, que não é assim. Ele retrucou que pode sim, que os americanos fizeram a mesma coisa no Iraque. Pior ainda, nem plebiscito houve. Nessa mesma época um avião desapareceu sem mais nem menos. Ninguém sabe, ninguém viu. O governo da Malásia está mais perdido do que russo no Carnaval carioca. Diz que está procurando mas não acha. Um dia vai achar. Os chineses exigem uma explicação. Querem saber onde estão os seus passageiros do voo 370.
Na Itália pararam de falar do Berluscone. Na França já faz alguns meses que não se tem notícias de escândalos conjugais de presidentes. No Japão estão quase terminando de descontaminar as usinas atômicas. Espero que esse ano não haja nenhum tsunami. Eles, os japoneses, continuam, porém, a pescar as baleias.
Na América do Sul, na República do Brasil, está tudo normal. Tudo azul. Está todo mundo, de um jeito ou de outro, esperando pela Copa. Aí, então, vai ser uma festa...
Que bonito!
No Paraguai continuam contrabeando um pouco de tudo. Nos altos da Bolívia, a coca continua necessária. Nas favelas do Rio, também.
Faz tempo que não ouço falar nada da Argentina nem do Uruguai. Espero que os ditadores não tenham voltado. Faz tempo que não se fala deles. Isso sim seria uma coisa de se preocupar...
Não sei se vão achar os corpos do avião que sumiu. Alguns da época da ditadura, nunca acharam não. Acho que é porque naquela época não havia GPS. Será que GPS significa “Gente Possivelmente Sumida”? Não sei não, existem coisas que ninguém explica...




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Saturday, April 12, 2014

Palavras


Há palavras tão doces, que, quando enunciadas, podem curar tudo: a alma e o corpo. Há palavras duras, que poderiam ter sido evitadas. Há outras duras também, que, ainda assim, precisam ser faladas. Há palavras falsas que envenenam, de modo irreparável, o espírito e o coração. Há palavras difíceis que, uma vez pronunciadas, trazem alívio sem igual. Há palavras fáceis, às quais ninguém dá valor. Há palavras certas que, faladas porém na hora errada, são muito daninhas e não podem mais ser desmentidas. Há as palavras soltas e que acabam caindo no ouvido errado. Há as palavras presas dentro do peito e que não conseguem sair. Elas corroem por dentro, machucam e cortam como navalha.

Há, por outro lado, as palavras que não precisam ser faladas. Estão escritas na face, no olhar. Para lê-las, entretanto, você precisa conhecer uma linguagem que a poucos pertence: a linguagem do silêncio...


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Sunday, April 6, 2014

Paraíba do Sul



Eu tinha dez anos de idade e não sabia ao certo o que estava acontecendo. Só sabia que viajava, veloz, no banco de um trem da Central do Brasil rumo a Lavrinhas, Estado de São Paulo, quase divisa com o Rio e divisa certa com Minas Gerais. O destino era o Colégio São Manuel, um seminário salesiano. Fiquei lá apenas um ano, era muito longe. Meus pais me transferiram para São Roque, muito mais perto da capital.
Recentemente, tentei achar fotos ou filmes, tentei me lembrar dessa época distante, por volta do ano 1960.
Finalmente encontrei um vídeo interessante, que mostrava as dependências da instituição. Ele mostrava o local aos poucos e eu tentava ajustar a memória. Parecia vagamente familiar, mas nenhuma lembrança perfeita acontecia. Os vitrais da capela, bem coloridos, chegaram a atiçar meu cérebro. Só me lembrei exatamente de um lugar quando chegamos ao dormitório. Ainda não me recordava de nada específico. Até que, finalmente, vi aqueles velhos armários de madeira ao lado de cada cama. São truques da memória que a gente não entende. Pude ver – numa volta ao passado - as poucas peças de roupa, as sandálias e meu par de sapatos, tudo arrumadinho, como tinha de ser, em cada divisão.
Do lado de fora, o vídeo não me mostrava nada conhecido. Entretanto, eu me lembrei das grandes magueiras esparramando mangas pelo chão. Mas a imagem mais forte, a que pareço estar vendo ainda hoje, é a do Rio Paraíba do Sul que passava no fundo da propriedade. Suas águas caudalosas, fortes, correndo pesadas pelo meio da cidade, bem ao lado do seminário. A maior parte do tempo eram escuras ou barrentas, nada se podia ver.
Eu olhava para aquelas águas em tumulto, uma torrente sem controle, levando tudo. Sentia um medo vago, indistinto, do futuro. O rio estava me ensinando que não tínhamos controle de nada. Podíamos agitar os braços, gritar, chorar. No fim, ele nos levava para onde queria. Éramos crianças, não tínhamos controle de nossas vidas. Mais tarde aprenderia que, uma vez adultos, teríamos a sensação de estarmos no comando, mas seria apenas uma ilusão.

Ele nunca me saiu da cabeça. Forte, insensível, bruto, tempestuoso. Controlando nosso destino, direcionando nossas vidas, nossas almas, tudo. Paraíba, Paraíba do Sul, torrente incontrolável, turbulenta. Para mim, símbolo claro, insano e doido de nosso fado, de nossa sorte...

Saturday, April 5, 2014

Onde está?



Nossas sondas espaciais passeiam pelo sistema solar e tiram fotos incríveis. Podemos ver detalhes do solo de Marte, podemos apreciar os anéis de Saturno e as luas de Júpiter. Tudo com uma precisão absoluta, fantástica. Fomos capazes de façanhas extraordinárias nestas últimas décadas.
E os nossos telescópios? E o Hubble? Fotografando berços de estrelas, planetas escondidos, galáxias perdidas? Sabemos onde há água, onde há gelo. Temos um mapa preciso da nossa Lua.
Mas o avião da Malaysia Airlines, por que não o achamos? Um avião enorme, bem aqui no nosso quintal? Talvez o conhecimento de nossos oceanos seja infinitamente menor do que o que temos do espaço sideral. Talvez nos interessemos pelo impossível, pelo que está longe, mais do que pela nossa própria casa . Talvez sejamos como o homem tolo que se apaixona pela mulher inatingível, distante, e não vê a beleza da mulher que está ao lado?
Por causa da história da aeronave que sumiu, uma coisa, porém, aprendemos sobre os oceanos. Descobrimos através das operações de resgate, que além de serem enormes e misteriosos, alguns deles, como o Índico, estão cheios de lixo, detritos e poluição. A ponto de pensarmos que eram escombros do aparelho. Como conseguimos tal façanha? Não se sabe, não se sabe...

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Friday, April 4, 2014

A batalha de Ryan, um soldado americano

A batalha de Ryan, um soldado americano



Ryan enfrentava combate de verdade pela segunda vez. Antes só havia sido treino. Agora era sério, granadas explodindo, barulho de saraivada de balas. Não queria arriscar mais do que o necessário, mas não tinha jeito. Não podia ficar ali abaixado na trincheira emquanto seus colegas estavam atirando quase o tempo todo.  Pela terceira vez levantou-se e mirou a metralhadora para o lado de onde vinham as rajadas inimigas e  ficou um bom tempo disparando.
Abaixou-se novamente porque o fogo inimigo aumentara muito. Foi aí que percebeu que, pelo menos três de seus colegas, estavam ensanguentados e inertes no chão. Haviam sido atingidos. Não havia nada que pudesse ser feito. Esperou um pouco, precisava ter certeza de que teria condições de atirar novamente. Estava com muito medo depois que descobriu que os companheiros estavam mortos.  Finalmente juntou coragem e força, e tentou se levantar. Foi então que percebeu que não conseguia. Passou a mão pelo rosto e percebeu que havia sangue. Talvez tivesse vindo dos outros soldados que tinham sido atingidos. Passou o braço direito pela face e pela testa. Havia muito sangue, estava aumentando agora. E era seu. Estava claro que vinha do lado direito de sua cabeça. Como não tinha percebido que estava ferido?
A fúria do combate aumentou. Ouviam-se claramente gemidos de dor, gritos de pavor. Mais pessoas haviam caído. Tudo tinha ficado vermelho. Começou a se lembrar de seu pai, de seus irmãos menores. Sentiu saudades de casa.
O som foi se dissipando. Embora estivesse de olhos fechados, podia ver os colegas morrendo, rostos de contorcendo de dor, horror por todo o lado. Mais corpos que caíam, era um verdadeiro massacre. O sangue grosso escorria pelo seu rosto, podia sentir. Agora alguém o carregava. De repente, só silêncio, parecia estar num chão liso. Numa sala? Finalmente, um pouco de paz.
De repente, começou a ouvir uma voz chorosa, quase sussurrando: “Por quê, meu filho, por quê? Por que você fez isso?” Ele sabia, era a voz de seu pai.
O pai de Ryan estava desolado. Estava li, na casa do filho, segurando sua cabeça ensanguentada. Ao  lado, sua mão ainda segurava a arma com a qual tinha se suicidado. Tinha voltado da guerra há seis meses e nunca mais tinha sido a mesma coisa. Sempre quieto, soturno, capisbaixo. Pesadelos, visões da guerra. Mas não sabia que estava tão mal assim, nunca pensou que fosse cometer um ato tão insano.

A verdadeira luta de Ryan finalmente tinha terminado e ele tinha perdido a batalha, a batalha final. 



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