Saturday, July 30, 2016

Porta do céu


Porta do céu

Todo dia eu acabava parando ali, bem em frente àquela casa branca – até o telhado, imaginem – com aquele letreiro azul bem na frente: “Porta do Céu”. Durante aqueles segundos de sinal vermelho, ficava imaginando...  era uma funerária, talvez um consultório de psicologia, ou uma sociedade de auxílio aos mais necessitados? Como saber? Não havia nada mais escrito, só aquela branquidão e as três palavras em azul celeste.
Havia algumas vagas para carros, mas nunca vi nenhum lá. Cheguei a ver pessoas saindo ou entrando, mas era raro. Naquele dia de agosto, o farol demorou mais que o normal para abrir. Foi aí que vi uma moça, vestida de uma túnica alva, me olhando de um jeito diferente quando entrava. Depois fez um gesto com a cabeça como se fosse um convite. Sei lá qual o verdadeiro motivo, o fato é que dei uma guinada no carro e peguei uma das vagas do estacionamento. Aproximei-me da porta e, quando estava pronto para bater, ela se abriu e um rapaz, sorridente, apontou uma poltrona onde deveria me sentar. Branca, é claro. Ele me disse que certamente eu estava me perguntando que lugar era aquele. Quando eu estava para responder, a moça que tinha me feito o sinal com a cabeça entrou na sala e me explicou:
-Aqui é mesmo a porta do céu. Sem metáforas, a porta do céu. A única diferença é que aqui você não precisa morrer para entrar no paraíso. São poucas as pessoas que veem essa casa. Alguém alguma vez disse para você que tinha visto essa casa? Se você perguntar para uma pessoa normal, ela vai dizer que aqui existe um “Burger King”, nada mais.
E não é que eu nunca tinha perguntado para ninguém!  E não é que alguém já tinha me falado de ter comido num “Burger King” por ali? Eu nunca tinha visto um ali perto, mas nunca tive a iniciativa de perguntar. A moça continuou:
-Pois é, esta é a chance de você ir para o paraíso, sem dor, sem morrer. Se você não quiser, não há problema. Você sai daqui, não vai se lembrar de nada e daí só vai ver um simples Burger King no mesmo lugar.
Pensei comigo, que diabos, o que vou fazer? Imediatamente tive consciência do absurdo que tinha feito, ou seja, mencionar o capeta em tal lugar. Ninguém notou. Ou talvez tenham disfarçado.
Pois bem, que mal podia haver naquilo? Não tinha compromisso nesse mundo de Deus, vivia sozinho, estava mesmo cansado da rotina. Sem prestações, até o carro estava pago. Exclamei, então:
-Vamos lá!
E lá eu fui. Puseram-me numa deliciosa cama – toda branca – no quarto ao lado. Fiquei meio zonzo, uma claridade doutro mundo me cegou. Minutos depois acordei em meio a cânticos celestiais. Celestiais mesmo.
E é isso aí. Agora estou aqui, vivo no céu. Infinitamente melhor do que imaginava, nada a reclamar, muito pelo contrário. Faz muito tempo, embora tempo não se conte por aqui.
De vez em quando dou uma passada lá pela casa branca para ajudar. Fico fazendo sinal para as pessoas entrarem, como eu entrei. É muito raro alguém me notar. Acho que a grande maioria das pessoas só vê mesmo é um Burger King todo colorido...

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Friday, July 29, 2016

Descobrindo um novo mundo




Descobrindo um novo mundo



Na grande sala, cheia de estranhos aparelhos, uma verdadeira coisa do futuro, talvez fosse difícil adivinhar através da estranha e indefinida feição dos cientistas, a expressão de felicidade, surpresa e excitação que eles estavam sentindo. A primeira sonda interestelar, enviada há muitos anos atrás, estava voltando. Embora estivesse ainda muito longe, já mandava as primeiras notícias do sistema solar que tinha visitado. Praticamente invisível para quem não tivesse a tecnologia para detectá-la, tinha cumprido sua missão e coletado inúmeros dados que agora estava enviando para o comando da missão.
O sistema havia sido detectado há mais de 100 anos e tinha chamado a atenção dos estudiosos por causa de algumas características muito especiais. Uma estrela com um raio de quase 700.000 km com vários planetas a seu redor, não era nada suprpreendente na imensa galáxia. Um deles, porém, era muito especial pela grande quantidade de água e sua densa atmosfera. A primeira sonda voltou com a certeza de que havia vida inteligente naquele planeta que passou a ser denominado  Vuusha.  Mais três sondas foram enviadas, cada uma delas trazendo mais notícias sobre  Vuusha. A última sonda era sofisticadíssima. Com um sistema de anti-detecção muito acima de tecnologias convencionais, tinha chegado a uma distância tão pequena do planeta que, se pudessem vê-la, teriam conseguido abatê-la com facilidade. Ela tinha gravado trilhões de informações, conversas, transmissões locais. Na viagem de volta, seu computador estava analisando os dados, tentando “traduzir” os estranhos sons e imagens.
Os estudiosos já sabiam que a civilização não era tão avançada quanto à deles. Entretanto, tinham um razoável grau de tecnologia, já sabiam enviar naves para o espaço, tinham um sistema sofisticado de comunicação, aparelhos voadores usados como transporte no dia a dia e, certamente, conheciam bastante de Astronomia e Física do Universo.
As primeiras imagens e sons “traduzidos” começavam a ser projetados e reproduzidos no ambiente cheio com pelo menos 150 cientistas ávidos por notícias.
Em instantes iriam anunciar qual o verdadeiro nome de Vuusha, ou seja, o nome que os habitantes do planeta davam para si mesmos. No momento certo ouviram-se uns sons curtos, estridentes, quase metálicos. Junto com esses sons, outros ainda mais estranhos ouviram-se na plateia. Eram os cientistas comemorando. Esses sons pareciam ter coerência, mas para nós seriam apenas ruídos.

Se você tivesse o mesmo sistema auditivo dos habitantes de Farramplatz, ou planeta NPC345734 de acordo com nosso sistema de classificação, você não ouviria aqueles sons e stranhos. Você estaria ouvindo a palavra “Terra”. Eles acabavam de nos ter “descoberto” e sabiam quase tudo de nós. Para nós, na Terra, Farramplatz era apenas um planeta com possibilidade de acolher vida, mas não tínhamos a menor ideia se poderia ser inteligente ou não. Em Farramplatz, a nossa Terra se chamava Vuusha, ou algo assim para nossos ouvidos. Eles, no entanto, estavam milhares de anos à frente da nossa civilização, a civilização terrestre...





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Thursday, July 28, 2016

Terror, amor




Terror, amor

Absurdos, sinistros eventos,
espalham-se pelo globo.
Seus agentes, agourentos,
das profundas sombras vêm.
Querem ser mais que a vida,
aprofundar suas feridas,
arrancar suas raízes.
Por isso tudo destroem,
num paradoxo maldito,
impossível, improvável.
Demônios brutos, em conflito,
inexatos, irascíveis.
Num outro ponto distante,
a mãe nutre seu filho,
com carinho fascinante.
Ao lado, o filho de outra,
tenta sobreviver ao caos
e manter da vida a flor.
Seios vertem o leite salvador,
enquanto se pode ver
lado a lado, mãos hábeis
tentando, com muito carinho
outro frágil ser manter.
Olho perplexo e adivinho:
Serão um dia os que são salvos
os mesmos que, insolentes,
vão destruir outros seres?
Como podem tanta maldade,
e tanta inútil bondade
habitar o mesmo ponto,
no mesmo estranho mundo
do mesmo único Deus,
dos mesmos bizarros homens?




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Monday, July 25, 2016

Balada do poeta



Balada do poeta

Sou o singular de todos,
sou o plural de mim,
antagônico, sem fim.
Sou a dor opressa,
sou o amor expresso,
de mim e de todos nós.
Ao desviar de águas turvas,
nas linhas faço curvas,
que não dependem de mim.
Caio, levanto e prossigo,
e como parte da vida,
choro, lamento, dou um riso.
Se você não faz nada,
quer viajar junto a mim?
Além de doces palavras,
com carinho tecidas,
nada mais tenho, porém,
para te oferecer.

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Saturday, July 23, 2016

A moça feia, a garota de Ipanema e outras mulheres


A moça feia, a garota de Ipanema e outras mulheres
Foi o Ataulpho que nos contou que a Amélia, sim, era mulher de verdade. Que ela às vezes passava fome a seu lado, e achava bonito não ter o que comer. Já o Chico disse que nunca é tarde, nunca é demais. E que a Bárbara e sua amante deviam  ceder enfim à tentação de suas bocas cruas, mergulhando assim  no poço escuro delas duas. E mais, o Chico avisou também  para a Carolina que não vai dar, que seu pranto não vai nada mudar. Pois é, continua ele, uma rosa morreu, uma festa acabou, e o barco partiu. O João Gilberto já tinha dito que amar é tolice, é bobagem, ilusão, e que ele  prefere  viver tão sozinho ao som do lamento de seu violão. E pergunta: “Agora amor, Doralice meu bem, como é que nós vamos fazer? Não ouvi a Doralice responder pois estava preocupado com as pedras que jogavam na Geni. Ainda assim, foram lhe pedir que dormisse com o forasteiro do Zepelim: Vai com ele, vai, Geni! E a Iracema, então? “Travessou contra mão”. É para piorar as coisas, o  Adoniram agora só guarda somente suas meias e seus sapatos, ele perdeu o retrato dela. Mas não foi só a Iracema que se foi. O Gil nos contou que o José viu Juliana na roda com João. Daí, o espinho da rosa feriu Zé e foi só sangue no chão. Olha a faca, olha o sangue na mão! Não era melhor o João não ter ido no parque? O Jobim falou que a Lígia não passou de uma ilusão do mesmo modo que o Chico ficou a ver navios quando a Madalena foi para o mar. Já o Ivan Lins, com um frio na barriga, repetia: Dinorah, Dinorah!
E existem tantas outras. A Teresinha – Chico de novo, quantas mulheres – acabou ficando com o terceiro, só porque foi chegando sorrateiro e se  instalando feito um posseiro dentro de seu coração, antes mesmo que ela dissesse não. E para terminar o alfabeto, o Ultraje a Rigor avisou a Zoraide para parar com essa coisa chata, e não vai se casar só porque já foi legal.
Às vezes, porém, as mulheres ficam sem nome. Nem por isso as pessoas deixam de saber que  Helô Pinheiro é a garota de Ipanema. Mesmo porque, quando ela passa, o mundo sorrindo se enche de graça e fica mais lindo por causa do amor. Já a moça feia que se debruçou na janela, pensando que a banda tocava pra ela, ninguém sabe o nome dela. Não sei por quê, o Chico não falou...

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GERMÂNIKA

Imagine um país que vai de São Paulo até o Uruguai, numa outra realidade. Imagine agora que este país foi dominado pelos alemães e agora são seus habitantes. Esta nação é GERMÂNIKA e pertence a um universo paralelo ao nosso.



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