Wednesday, May 4, 2011

Perdão, um milhão de vezes, perdão


Perdão, um milhão de vezes, perdão

Outubro de 2006. No dia 2,  mais uma terrível tragédia Americana está ocorrendo. Charles Carl Roberts entra na escola West Nickel Mines, numa cidadezinha da Pensilvânia, faz reféns e no final acaba matando 5 inocentes garotas, de 6 a 13 anos da comunidade Amish local.Teve a fineza de se matar após este terrível ato, evitando a dor e o constrangimento de um julgamento. Um advogado de defesa iria tentar provar que ele era louco, etc, com se todos nós já não soubéssemos. Sem querer ser cínico, a esta altura, este assassino, mesmo com atestado de loucura, deve estar queimando nos quintos. Matar por si só, apesar da banalidade com que este assunto é tratado hoje em dia, é o oposto extremo de humanidade, de civilização. No entanto, matar uma criança inocente, em uma escola, vai muito além da minha capacidade de descrever,  de atribuir adjetivos. Matar cinco crianças é “infinitamente” cinco vezes pior, se é que isso é possível.  Assolar desta forma uma pacifica comunidade Amish? Para isso nem ouso tentar uma explicação.
A imprensa dos Estados Unidos e do  mundo inteiro falou da tragédia, tentou explicar o inexplicável.
Muitas coisas absolutamente horríveis aconteceram e têm acontecido na história da América. Maldade inimaginável às vezes toma conta de lugares e comunidades de uma forma além do entendimento humano.
O absurdo foi tão grande que o destino resolveu suavizar a tragédia e nos dar uma lição difícil de se esquecer.O que acontece a seguir deixa-nos tão atônitos quanto o próprio crime.
Aqueles pequenos corações mal haviam parado de bater, seu sangue ainda escorria pelas paredes e carteiras da escola, naquele mesmo dia, um dos pais das meninas estava admoestando os jovens para não terem ódio no coração, advertindo que “não devemos pensar com maldade sobre este homem.” Outro pai observa “Ele tinha uma mãe, uma esposa e uma alma e agora ele está diante de um Deus justo.”
Horas depois dos assassinatos um dos vizinhos do assassino “conforta” a família Roberts e extende seu perdão a eles. Membros da comunidade visitam e consolam a viúva, seus pais e sogros. Um amish abraça e conforta o pai de Carl Roberts por mais de uma hora.
Meu Deus, meu Deus, como este povo pode perdoar tanto??? Trinta Amish participam do enterro do assassino e a viúva do mesmo é convidada para o enterro de uma das meninas.
Quando vejo isto e comparo com bombas matando pessoas, assassinatos brutais por todo o mundo, desconfio que há uma balança cósmica tentando equilibrar o bem e o mal.
E agora que me perdoem os padres e os pastores que pregam sobre Jesus e sobre perdão ao longo destes 2000 anos depois de sua vinda. Juntando todos os sermões, todos os atos de perdão, juntando tudo, não conseguiremos explicação nem para um por cento do perdão concedido ali. Em dois mil anos não conseguiria sentir o que é perdão mais do que naquelas poucas horas da Pensilvânia.
E mais: se é verdade que algumas pessoas conseguem sentir a presença de Cristo quando estão em Jerusalém, com certeza sentiram sua falta lá durante algumas horas naquele dia, 2 de Outubro. Ele estava muito ocupado, perdoando, na Pensilvânia.


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Manuel e o "recall"

Manuel e o “RECALL”


Manuel, como quase todos os Mexicanos por aqui, não tem nada de arrogante. Já tem todos os documentos  e vive legalmente, mas sempre humilde,como se tivesse atravessado a fronteira no mês passado. Trabalhava em pavimentação de estradas quando teve um sério acidente com seu tornozelo. Ferimento grave, tivera de fazer uma grande cirurgia e estava em recuperação. Comentou como estava difícil pagar a casa que comprara pois o cheque vinha com apenas 65% do valor que ganhava, pois estava afastado.
Depois da operação, tinha voltado uma vez ao consultório do cirurgião, para reclamar que a dor continuava forte e parecia piorar. Comentou que o doutor não olhou o ferimento e disse que era assim mesmo, mas ia pedir uns exames só para garantia. Estava indo ver  os resultados dos exames.
Ele desembarca, vou para outro paciente. Duas horas depois passo novamente para levá-lo para casa. Então vem com a notícia de que seu tendão de Aquiles estava infeccionado e que precisaria de um transplante. Não sei se por simplicidade ou por outro motivo, não parecia assustado. Iriam marcar a operação, assim que houvesse um doador.
Alguns meses se passam sem que eu saiba do Manuel. Um dia ele aparece na minha programação. Estou curioso para ver se tudo foi bem.
Dia seguinte, sorridente, diz que já fez a operação, que estava tudo bem e me mostrou um aparelho que carregava na cintura. Aparentemente este aparelho pingava, em doses pequenas, algum tipo de remédio que descia para o local da operação ou na corrente sanguínea. O doutor iria checar o “status”da cirurgia. Chegamos, faz-se a consulta e ele, além das receitas, vem com a notícia de que tudo está indo muito bem.
Mais um mês se passa e sou novamente escalado. Ao entrar no carro me diz que não sabia o porquê da consulta, que a secretária do médico ligara e dissera que tinha de ir ao consultório urgente. Fizemos muitas considerações, mas definitivamente não podíamos atinar com o objetivo da chamada fora do comum.
Fiz duas ou três corridas antes de voltar. Na volta ele vem com a bomba: o médico pergunta se ele tem advogado, o que,  por si só, é bastante incomum. Em todo o caso se estava perguntando era para usar contra alguém e não contra ele mesmo, o médico. O cirurgião então fala algo que, para mim, é uma bizarra novidade. O tendão que tinha sido transplantado nele não era bom, tinha vindo de um defunto que tinha tido cirrose. Todos os órgãos doados poderiam ter problemas. Em resumo, estavam fazendo um “RECALL” dos órgãos doados. Fiquei um tempo perplexo, tentando entender se era alguma piada. Não, não era. Não consegui deixar de pensar no fulano que tinha recebido o coração. Mas parei o pensamento na mesma hora. Era muito para o mesmo dia.
Meses depois fiquei sabendo que o tendão foi retirado, um novo, sem cirrose,  havia sido recolocado e o Manuel estava  em plena recuperação.
Não deve haver registros deste tipo, mas desconfio que o Manuel tenha sido a primeira vítima de “recall”de tendão de Aquiles com cirrose na história da Medicina.
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