Tuesday, September 29, 2015

Lua, estranha Lua



Lua, estranha Lua

Martin tinha ido para sua casa nas montanhas para passar o final de semana. Na verdade era seu sítio no meio do mato. Havia umas colinas cá e lá, mas era bonito falar “casa nas montanhas”.  Sozinho, aquele ar puro e gostoso, não podia haver nada melhor. Saiu do trabalho mais cedo na sexta e quando era quase noite, chegou na antiga cabana. Arrumou rapidamente as coisas, encheu um copo de vinho e foi para a varanda. Adorava essa parte.  Olhar para aquele último clarão do dia, as sombras chegando, as estrelas aparecendo na vastidão do céu. Era algo que não se comparava a nenhuma outra sensação.
Seu refúgio não era nada mau. Tinha até energia elétrica. Tinha pago uma fortuna para colocar todos aqueles postes por quase dois quilômetros para trazer a rede do pequeno vilarejo até onde estava. Fazia questão de não ter televisão por ali. Rádio era bom, não que ouvisse o tempo todo. Algumas notícias, um pouco de música para o fim de semana.
Ele já estava na quarta taça de vinho. Sem problemas, não iria a lugar nenhum, poderia dormir até a hora que quisesse. Era uma noite sem nuvens, cheia de estrelas e aquela lua formosa. Ela tinha algo de diferente naquela noite. Estava enorme e alaranjada. Como nunca tinha visto antes. Dava até a impressão que estava pulsando, como se fosse um coração. Era como se ela tivesse veias e artérias. Que bobagem. Tinha mesmo bebido demais.
Levantou-se e foi para a cama. No caminho teve a sensação de que estava mais leve. Que seu coração batia de um outro jeito.
Dormiu algumas horas. Acordou com um estranho ruído. Parecia o som das folhas das árvores ao soprar do vento. Mas não havia vento nenhum. O ar estava incrivelmente parado. Olhou para o teto e notou que havia duas folhas de papel grudadas nele. Outras pequenas coisas que ele não reconhecia também lá estavam. Como se elas tivessem sido atraídas para cima. Levantou-se e, paradoxalmente, sentia-se extremamente leve, como se fosse flutuar, e ao mesmo tempo um torpor excessivo, como se o sangue quisesse explodir em suas veias. Foi lentamente até a varanda. Olhou para cima e viu algo que não entendia. Sentou-se. Não podia acreditar em seus olhos. Tentou concentrar-se para entender o que estava vendo. A Lua estava enorme. Sinistra, anormal. Cinco ou seis vezes maior que seu tamanho normal. Era agora praticamente vermelha. Era como se tivesse rios de sangue correndo pela sua superfície. Pareciam lavas de um vulcão subterrâneo. Sua inteligência não conseguia processar o que seus olhos viam. Dirigiu a vista para o lado da vila.  Não havia luz. Certamente, como em sua casa, a energia elétrica tinha sido cortada. O rubro da Lua, entretanto, reverberava de volta para o céu. Notou então, que folhas, objetos leves, até o pó do chão, estavam sendo levantados para cima, como se estivessem sido atraídos pelo astro. Apesar do inédito e do bizarro da situação, seu raciocínio funcionou rápido. Se a Lua estava mais próxima, sua força gravitacional estaria também atraindo tudo que podia em sua direção. Isso explicaria também porque se sentia mais leve. E também a sensação de que estava explodindo por dentro. Tentou ligar o rádio de pilha para saber alguma coisa. Nada.
Era paradoxal. Uma beleza inédita e fantástica e, ao mesmo tempo, aterradora. Estava acontecendo, mas não podia estar acontecendo. Era impossível.
Muito mais coisas estavam subindo para o ar agora. Coisas não tão leves. Começou a sentir falta de ar. Como se ele estivesse ficando rarefeito. Estaria a Lua sugando tudo, inclusive a atmosfera? Sabia que iria morrer, mas sabia que aquilo era um espetáculo que nenhum ser inteligente havia visto antes. Como os astrônomos não souberam disso com antecedência? Como não haviam feito previsões, com toda a tecnologia disponível? Havia lava dentro da Lua, ou era outro fenômeno que estava acontecendo? Nunca ficaria sabendo. Deitado na relva, Martin estendeu a palma de sua mão contra o firmamento. Aquela bola gigantesca estava agora quatro ou cinco vezes maior que ela. Com a falta de oxigênio, Martin já não raciocinava mais.  Viu ainda mais uma vez aquela esfera enorme, avermelhada, com rios de lava se aproximando cada vez mais. Depois tudo se apagou.

A grande e apocalíptica explosão muitas horas depois, ele, definitivamente, não viu. Nem ele, e nem qualquer outro ser humano. Talvez, fora do sistema solar, alguma nave alienígena estivesse observando. Para eles, na distância, seria apenas um pequeno cintilar de luz. Depois do fenômeno, seus aparelhos talvez estivessem calculando o realinhamento dos planetas. Para nós, o extermínio. Para a galáxia, um reluzir inexpressivo, passageiro, no meio de infinitos outros.

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Brasil


Monday, September 28, 2015

Coisa de comunista


Coisa de comunista

Tento entender como tantos são enganados por tão poucos. Também não consigo entender como tão poucos têm tentáculos de tarântula que tentam o tempo todo tomar posse de tudo que é tão somente o pouco que a maioria tem para sobreviver. Tento entender  e não atino com o que eles têm para dizer. São poucos que têm muito e tantos que nada têm.
Ainda estou tentando entender a estatística desta matemática maldita, fatalista, que ataca a população com golpes fatais. Frios, com furor sugam as tetas de tudo. Tiram do trabalho de outros tudo que podem.Têm na testa a marca da besta. Têm tanto que nem podem usar no tempo que têm para viver. Têm tudo que os outros não têm, têm tudo que os outros deixam de ter.
Acho que é tudo só impressão minha. Não se pode falar coisa assim, isso é coisa de comunista...                  
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Friday, September 25, 2015

Adições e subtrações




Adições e subtrações

Somando-se todas paixões,
todos os doces amores,
daí subtraindo-se todo ódio,
toda ira, doidas sensações,
o que sobra em nossa alma?
Somando-se as doces sentenças,
os gestos de amor e carinho,
subtraindo-se toda dor intensa,
tudo que nos foi algoz,
o que sobrará dentro de nós?
Só nós mesmos, só nós, nada mais.

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Tuesday, September 15, 2015

Quando a eternidade chegar


Quando a eternidade chegar

Estou aqui, ansioso, esperando...
Esperando a eternidade chegar.
E ela, teimosa, nunca que chega.
Não sei por que demora tanto,
está atrasada, vem devagar.
Quando ela chegar, eu vou dizer:
Pensei que você não viesse mais,
você demorou uma eternidade!
Talvez ela responda, com prazer:
Pensando bem, vou voltar mais tarde.
E quem sabe mais um infinito
se passe, antes que ela volte.
Não faz mal, não. Não estou nem aí.
O que é esse eterno porvir,
para quem tem uma só vida?
Acho até legal, por que não?
Quem sabe ela se esquece de vir?

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Friday, September 11, 2015

O sentido das coisas



O sentido das coisas

Todos diziam que sabiam o futuro. Todos, a igreja, os profetas, os sábios, a ciência e o governo também. Mas estavam todos errados, ninguém sabia, foi diferente de tudo. Agora estamos todos aqui, sem saber. O futuro chegou e ninguém pensou nele, do jeito que ele ia acontecer. Mas ainda não terminou, outro futuro ainda vai chegar, esse, então, não creio que alguém ouse adivinhar. Tudo que você imaginar, ele vai, com muita facilidade, suplantar. Depois que você o reconhecer, vai revisar o presente e vai revisar o passado. Tudo vai ficar sem sentido, para tomar o novo sentido do que ele vai significar. Nem ouse pensar. Eu não ouso também.
Entretanto, pode ser que, depois de tudo,  depois do novo futuro que chegou, do futuro que ainda vai chegar, do presente e do passado que já não existem mais, nós voltemos ao princípio de tudo, antes do passado, do qual nem nos lembramos mais. Talvez, então, tudo faça sentido. A única coisa com a qual teremos de nos preocupar de novo, vai ser o nosso futuro.
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Thursday, September 10, 2015

A luz do Universo



A luz do Universo


Apagaram a luz do Universo.
Por que será?
A resposta, não sei.
Só sei que estamos no escuro,
esperando uma outra,
de um paralelo universo, chegar.
Se chega, não sei.
Só sei que, no escuro, enfim,
começamos a ver a luz.
A verdadeira, a luz interior.

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Wednesday, September 9, 2015

Feriados, cá e lá


Feriados, cá e lá



Era o “Veterans Day” e comecei a pensar nos feriados. E não é que dá para dizer bastante de um país só de pensar um pouco neles? Este feriado é para homenagear as pessoas que participaram das guerras em que os Estados Unidos se envolveram. Interessante, existe um outro feriado a respeito de coisas de guerra: o “Memorial Day”. Esse é para relembrar os soldados que morreram nas inúmeras batalhas americanas. Outro feriado que envolve coisas de guerra. Nós não temos nenhum dos dois. Temos porém o dia dos mortos em geral, Finados. Os mexicanos, de uma maneira mais direta, o chamam de “Dia de Muertos”. Fica para o eleitor querido, a pergunta, pois nessa não quero me meter: não temos feriados desse tipo – sobre a guerra – porque nunca tivemos de lutar? Nunca quisemos lutar? Ou será que os americanos só pensam em guerra, estão o tempo todo batalhando contra alguém no mundo? E o feriado dos mortos? Será que para eles só interessa quem morreu durante uma batalha? Somos mais sentimentalistas e ele mais práticos?
Dizem que o Halloween serve para uma catarse de nossos medos. Livramo-nos daquilo que nos assusta através da confrontação. E nós, não temos medo? Estamos tão acostumados ao horrores do dia a dia, aos assaltos e aos crimes, que já fazemos nossa própria catarse a todo momento? De qualquer forma, esse não é um feriado oficial, não queremos amedontrar a indústria capitalista com tanta folga.

E o “President’s Day”? Nossos presidentes não são dignos de comemoração e por isso não temos esse feriado? Os presidentes deles são melhores que os nossos? Deus me livre de pensar numa coisa dessas. Pelo menos na parte da independência, os dois países tem um feriado em comum. Se somos realmente independentes, não sei dizer, essa também eu deixo para você responder. Finalmente chegamos ao “Dia de Ação de Graças”. Eles têm, nós não.  Eles têm coisas maravilhosas para dizer “thanks” e nós não? Ou será que somos apenas mal agradecidos? Como disse, não tenho resposta. Talvez tenha algumas, mas não quero ofender ninguém, nem daqui, nem de lá. Às vezes é melhor se calar, mesmo porque, nenhuma das duas nações tem o dia da verdade. Curioso, o primeiro de abril, todo mundo tem... Claro, não é um feriado, é apenas um dia como outro qualquer em que todo mundo trabalha. Alguns poucos, é verdade, só fazem de conta que trabalham...

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Tuesday, September 8, 2015

Espécies ameaçadas


Espécies ameaçadas

A tartaruga de couro, a cobra de vidro, a arara-vermelha, a jaguatirica e a cegonha- preta são apenas alguns dos animais ameaçados de extinção. Uma vez consumado o fato, nunca mais veremos aquela espécie. Uma perda tremenda. Talvez, num futuro distante por um milagre genético, numa terra onde a ficção científica se torne o cotidiano, possamos reativar alguns deles. É mais uma fantasia do que mesmo uma remota possibilidade.
A extinção pode ser causada por elementos naturais, como catástrofes, predadores mais eficientes, etc. No entanto, os homens, com o avanço da civilização e seu uso demasiado, desordenado e desregrado dos recursos naturais, tornou-se um dos maiores agentes. É uma tristeza enorme ver maravilhosas criaturas, resultado de milhões de anos de evolução, serem, de repente, varridos da face do planeta.
O homem, como um vírus gigantesco, vai se apropriando de tudo, dissipando a vida, a beleza da Natureza. Talvez ele próprio esteja ameaçado de extinção. Parece impossível, mas eu estou falando de um particular tipo dessa espécie: o “Homo Sapiens”. Teoricamente aquele que sabe, que é sábio, que tem consciência. O verdadeiro “Sapiens” está cada vez mais raro.  Ele está sendo absorvido pelo “Homo Improbus”, “Homo Imprudens” e “Homo que só pensa em si mesmo”.

Quando isto acontecer, vai ser o final dos tempos.

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Monday, September 7, 2015

Perdido



Perdido

Perdido na rua,
na esquina,
no bar,
na casa,
no cruzamento,
no ar,
no mar.
Sozinho,
perdido no meio de todos.
Perdido em teus braços.
E, finalmente, o pior de tudo:
Perdido na vida.




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Friday, September 4, 2015

Indo para o Norte



Indo para o Norte

Logo de manhã Arnold percebeu que era um dia diferente. Havia barulho lá fora, alguns gritos, ruídos estranhos. Não poderia ser nada grave pois não ouvia sirenes, nem tiros ou qualquer coisa alarmante. Ao longe parecia haver vozes vindo de megafones. Arnold estava incomodado com o movimento. Ligou a tevê e viu que não havia energia elétrica. Abriu a porta da frente e aí ficou assustado. Havia pessoas correndo, algumas puxando crianças pelas mãos, umas indo para uma direção, outras para outro lado. Andou um pouco pela calçada e tocou no ombro de alguém:
-O que está acontecendo?
-Você não sabe? Sabotaram todos os computadores. Nada está funcionando. Todos os sistemas estão falhando, não se pode comprar, as lojas estão fechando, não se pode por gasolina, está uma confusão danada!
-Tá bom, é grave, mas por que este desespero?
-O exército...
O estranho ameaçou sair mas Arnold segurou-o pelo braço.
-O que tem o exército?
- Eles estão anunciando. Eles estão falando...Ei, eu preciso ir. Você não ouviu? Estão mandando evacuar. Ir para o Norte. Alguém  também tomou conta da usina nuclear, podem detonar tudo a qualquer momento. Quanto mais longe melhor...O exército cercou tudo.
O rapaz, então, virou-se e saiu andando muito depressa, quase correndo. Arnold, que acordara com muitos planos, tinha um dia cheio, percebeu que aquele não seria um como os outros. É verdade que ele era meio apavorado, mas a s situação ali, se fosse tudo verdade, era realmente de se apavorar. Tentou ligar para sua esposa que estava viajando mas logo notou que o celular não funcionava. Ir para o Norte? Se tinha de ir para o Norte, ele ia...Entrou em casa, pegou uma maleta, pôs algumas roupas, outras coisas para passar um dia fora, documentos e a chave do carro. Fechou tudo, desligou a chave geral para o caso de a energia voltar e deu partida. Mal chegou até a esquina e já percebeu que as coisas estavam piores do que pensava. A confusão era enorme, o trânsito era um tumulto. Ficou cerca de meia hora tentando pegar ruas secundárias, escapar da multidão. Estava óbvio, não iria muito longe daquele jeito. Além disso, podia notar que muita gente já desistira dos veículos e os abandonavam em qualquer lugar, inclusive no meio da rua. Arrumou um lugar e estacionou. Havia pavor no rosto das pessoas. Ficou ainda mais assustado quando percebeu os primeiros saques. Pessoas saíam das lojas carregando o que precisavam. Definitivamente o caos estava instalado. Procurou andar por ruas secundárias e dirigiu-se para uma das pontes que cruzavam o Rio das Pedras que, na verdade, era uma saída para a região Noroeste. Certamente todo mundo estava indo para o Norte conforme o exército ordenara. Era  a mesma coisa e encontraria menos movimento. Arnold começou a ficar cansado logo depois dos três primeiros quilômetros. Estava  completamente fora de forma. Fazia tempo que não dava uma caminhada. Agora estava na estrada. Havia pequenos grupos e havia outros que caminhavam sozinhos. Carros abandonados ao longo da pista, outros no meio, algumas pessoas sentadas no acostamento para um descanso...tudo aquilo formava uma cena apocalíptica. Arnold pensou como não se tem controle da vida. Um dia antes tudo estava bem, ele estava cheio de ideias, de planos. Quase sentiu culpa pela situação.  Ele tinha essa mania. Toda a sua vida, quando as coisas estavam bem e algo ruim acontecia, achava que, de alguma forma, ele tinha feito algo de errado. Por algum tempo, estava tão absorto em seus pensamentos que se esqueceu da fatiga. Estava pensando se aquilo tudo era só ali, ou era algo que estava acontecendo na região inteira. Ou talvez em todo país. Um grande ataque cibernético? Terrorismo? Parecia um filme. Aqueles filmes de calamidades. Bem que poderia ser apenas um pesadelo. Não, não era...Se fosse, já teria acordado. Quase ninguém falava, o desânimo e o desespero eram óbvios no rosto das pessoas. Arnold pensou em ficar junto com um grupo. Depois decidiu ficar perto mas não se juntar. Percebeu que cada vez mais havia pessoas parando, desistindo. Velhos, crianças...Pais carregando os filhos nos ombros. Agora suas pernas doíam muito e respirava com dificuldade. Precisava parar. Parou junto a um arbusto  e sentou-se. Não havia sol, era um dia nublado. A não ser pelas pessoas na estrada, pelos carros abandonados, não se podia dizer que estava ocorrendo uma tragédia.

Após algum tempo, resolveu juntar forças e recomeçar. Se ficasse mais um tempo ali, possivelmente não teria como se recuperar. Agora estava um pouco mais descansado mas seu corpo doía ainda mais. Seu sangue havia esfriado, dava para sentir muito mais as dores.

Não sei quanto tempo Arnold caminhou, mas foi muito. Agora havia poucas pessoas na pista. Havia muita distância entre elas. Quase não se viam mais veículos parados. O silêncio só era quebrado de vez em quando pelo barulho de aviões da Força Aérea cruzando sinistramente os céus. Era o fim, pensou Arnaldo. Não faz sentido caminhar assim, sem destino. A radiação nuclear vai nos atingir de qualquer jeito, por mais que caminhemos. É inútil.
Não se sabe se o raciocínio de Arnold era legítimo ou apenas uma desculpa para parar. O fato é que, quando ele viu uma pequena casa na distância, tomou uma decisão. Andou quase um quilômetro e viu que na varanda da casa, certamente abandonada, havia uma cadeira de balanço, daquelas antigas. Lembrou-se dos analgésicos que pegara ao sair de casa. Eram mais que analgésicos, eram poderosos soníferos. Arnold sentou-se, procurou o pequeno vidro, abriu-o e engoliu quatro comprimidos com um gole de água. Fechou os olhos esperou o efeito. Ou porque estava muito cansado ou porque estava muito agitado Arnold não obteve o resultado esperado. Tomou mais alguns e dali a pouco sentiu um torpor muito forte. Antes de dormir, porém, seu raciocínio fez uma estranha manobra, e ficou claro que não valia a pena ficar vivo numa situação daquelas. Já completamente dopado, foi engolindo todos os comprimidos ao mesmo tempo que sorvia todo a água da garrafa. Após alguns minutos Arnold estava fazendo a “viagem final” de sua vida.
Foi uma pena. Se ele continuasse vivo, poderia contar o ocorrido para seus filhos e até seus netos. Era uma história e tanto para ser contada. Os terroristas realmente executaram o maior ataque cibernético da história, comprometeram todos os serviços de uma grande parte do país e, definitivamente, estiveram no comando da usina nuclear que ficava a 120 quilômetros da casa de Arnold por algumas horas. Foram dominados finalmente pelo exército e pelo FBI. Tudo voltou ao normal após alguns dias. O fato mudou a história dos sistemas de segurança do país e do mundo. Para o Arnold, entretanto, aquilo foi muito mais do que ele poderia suportar. Ele acabou resolvendo o problema a sua própria maneira, o pobre Arnold.




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